
Janelas Filosóficas III - 17ª sessão - 30.11.2021
Palestrante: Luciano Mattuella
Debatedor: Fernando Carlucci
“Tragédia”, nos explica Luciano, é tomada aqui na sua acepção clássica. O indivíduo trágico é aquele que está submetido - um sujeito, portanto - a um destino que parece ter-lhe sido antecipadamente traçado. Pensemos no próprio Édipo que, mesmo tentando mudar voluntariamente a sua sina, acaba por realizar a profecia de que desposaria a mãe e mataria o pai. O sujeito trágico vê a sua vontade reduzida ao automatismo de uma lógica pré-existente. Em outros termos, é permeável aos efeitos do discurso antecipatório do destino, do grande Outro, para falarmos lacanês. Um dos horizontes de uma análise é ajudar o analisante a estar advertido dessas antecipações e, com sorte, poder tornar-se autor de sua própria narrativa - mas sem, com isso, fazer a suposição de não ser determinado pelo que lhe foi demandado. É a partir do campo da demanda que surge o desejo. Como operar a Psicanálise em um contexto como o atual, que pouco a pouco produz um apagamento do passado e uma fragilização da memória? Parece que algo vem se rompendo na nossa relação com o passado, o que surge no campo político, por exemplo, na prevalência da falácia da meritocracia (“todos partimos do mesmo lugar”) e da crítica às cotas (“não tenho nada a ver com o que aconteceu antes de eu nascer”). É sobre isso e muito mais a 17ª sessão (3ª ed.) do Janelas Filosóficas de hoje!