
Na aula de hoje, vamos apresentar uma interpretação de O Mulo, romance de Darcy Ribeiro, publicado pela primeira vez em 1981. O romance estrutura-se em forma de confissão, feita pelo seu protagonista, o proprietário de terras Philogônio de Castro Maya, dirigida a um padre, ainda não conhecido, que herdará as propriedades conquistadas ao longo da vida pelo fazendeiro. A narrativa é feita em primeira pessoa e mistura os gêneros textuais da confissão, do relato de memórias, da especulação metafísica e vai recuperando as figuras dos vários “eus” de Philogônio que vão se sucedendo como se fossem peles novas vestidas pelo sujeito que velho e doente as recupera ao escrever. O romance, ambientado no sertão de Goiás, é o testemunho da vida de um sujeito bruto que vive a vida pela perspectiva esvaziada da posse e do mando, mas funciona também como uma espécie de prisma para se pensar o autoritarismo do capitalismo periférico brasileiro.