
Neste episódio de Safoda, tínhamos tudo pronto para mais uma conversa como deve ser — daquelas que começam no absurdo e acabam no filosófico.
Mas o universo tinha outros planos.
O episódio foi abruptamente interrompido por um cão. Sim, um cão. De olhar desconfiado, andar coxo e uma energia de quem já passou por muita coisa (a maioria, provavelmente, inventada).
Acredita, profundamente, que é uma pessoa. Não um cão com personalidade, não um animal especial — uma pessoa. Daquelas com direitos, traumas, responsabilidades e diagnósticos vagos. Diz que tem todas as maleitas.
O seu dono, indiferente, trata-o como um cão. Uma afronta imperdoável, segundo o próprio.
A tensão emocional era tanta que já não havia espaço para mais ninguém.
O microfone foi ocupado, a pauta ignorada, o tempo todo entregue a este animal profundamente convicto da sua humanidade.
No final, não sabíamos se tínhamos gravado um episódio, prestado assistência social ou participado num delírio coletivo.
Mas é isso o Safoda.
Às vezes, não se segue o guião.
Às vezes, aparece um cão que se acha pessoa e tem as doenças todas.
E a única coisa a fazer… é ver bem, respirar fundo —
e mandar um safoda.