A lua antecipou a noite,
foi de afoite,
brincar carnaval à luz do dia,
repentina,
toda vadia,
entregue como serpentina
no meio da multidão,
perdeu-se entre todas as gentes,
todas as cores,
toda emoção,
foi mulher vivida, de muitos carnavais,
foi moça atrevida de prazeres carnais,
foi pé de folia que não descansa jamais,
foi confete, espuma, suor, fumaça, desejo, fantasia e mais puro tesão,
foi corpo de maresia a que nenhum homem diz não,
purpurina de alegria que gruda em qualquer coração,
foi beijo de menina
que ensina
o virgem folião,
foi saber de folia,
foi mais que um dia,
foi minha primeira paixão
É meia-noite e eu sei que você não me ama,
eu me despedaço,
afundo na lama,
eu me afogo nos lençóis,
eu que tanto pensava em nós,
não passamos dum fiasco
É meia-noite, acusam os ponteiros
como acusam os meus pensamentos,
as memórias dos fatos,
que você não me ama
É meia-noite, quantos não estão amando seus amores verdadeiros?
construindo célebres momentos
histórias sem substratos
de mentiras,
é meia-noite e eu choro na cama
É meia-noite e eu pensando em você,
com medo de desligar o som da TV
e ouvir a sua voz,
é meia-noite e eu tento esquecer,
mas o seu desejo é algoz
do meu sono,
é querer o beijo dum coração sem dono
é meia-noite, é fim de mês, é o último dia do ano
e eu ainda te amo
Hoje não estou bom com as palavras,
me nego a conversar,
perdido nos meus próprios assuntos
que não interessam a ninguém;
só quero alguém
para dividir o silêncio,
um abraço quente,
um cobertor de lã
e não ter que pensar no amanhã
Eu perdi a minha virgindade
e você perdeu a sua fidelidade,
não sei se foi um caso de amor ou de maldade,
foi um prazer de momento
do qual agora só nos resta o constrangimento
Quando contigo me deito,
faço do nosso leito
ninho de amor vadio,
de ti jamais me sacio,
pelas tuas linhas me enfio,
sinto em nós forte vibração,
perco-me nesse diapasão,
e não consigo distinguir a emoção,
se louco prazer ou pura paixão,
só me deixo levar pela eloquente sensação
de estar nos teus braços,
dos gemidos,
das tremedeiras,
dos meus descompassos;
nossos corpos só se deixam esparsos,
no instante que já não resta no fôlego sopro,
em que a fadiga é um secante escopro,
contigo tudo é tão bonito,
só ela interrompe o nosso amor infinito;
fico prostrado,
mas não aflito,
junto a ti, o destino nem fito,
não temo o futuro,
pois no nosso quarto escuro,
o tempo não importa,
por detrás daquela porta,
a gente se comporta
como dois imortais,
refugiados nos prazeres carnais,
e os delírios mais sublimes nos parecem normais
É uma pena que uma mulher tão linda, tão inteligente,
que gosta de ser livre,
que gosta de sexo,
e encara o preciosismo machista que habita em todas as mulheres,
uma pena
que seja tão fútil,
que viva a mercê de homens mais velhos
Você deixa que eles suguem toda a sua juventude,
eles nunca vão se saciar,
você só vai perceber quando sugarem até a tua inocência,
tarde demais,
você agora é um pulmão sem ar,
seios sem sustentação,
aos quarenta anos,
sem amor, sem emprego, sem rumo,
esse é o preço duma vida de ilusão,
de tudo isso que você considera o suprassumo,
você abraça todas as frivolidades,
abraça esses tórax peludos,
fazendo deles uma couraça para se proteger,
mal nota que se encerra na própria prisão;
numa síndrome de Estocolmo
você se tranca no castelo com seu “príncipe encantado”,
se encanta ao ver da janela o mar
e não vê o príncipe virando sapo,
a desventura do fim da sua vida
vai sendo costurada sorrateiramente transparente
Essa noite você vem?
Não se preocupe meu bem,
não é errado ter excesso de amor e querer mais alguém
eu sei que você ficou louca depois de ouvir o meu áudio,
quer ser promíscua como uma imperatriz romana,
venha comigo trair o seu Cláudio,
encontrar no prazer proibido o seu nirvana,
drogada pela insanidade profana;
de que vale um marido
quando não satisfaz a libido?
É na escuridão
que brilha nossa paixão;
um dedo no interruptor,
vários pelo corpo,
perambulando sem escopo,
prazer disruptor;
de fundo música a meio-tom,
sintonia em império,
o nosso caso não é sério,
é um gostoso talvez
que se desenrola no looping da nossa esteira,
a decisão fica na prateleira
perpetuamente esperando a sua vez;
a incerteza é uma delícia,
nossos comentários de privada malícia,
que fazem desconfiar os amigos,
interrogados,
a gente nunca confessa,
seja na fusão de dois corpos suados
ou na partilha de sentimentos mais polidos,
da pressa somos inimigos,
vivendo um eterno deixa-estar,
o moderno “deixar-rolar”,
melhor que imaginar
é de fantasias brincar
Neste quarto
quero ser contigo mais que duas mulheres de mãos dadas,
duas amigas disfarçadas,
quero ser uma só nudez
entrelaçada,
beijar a tua tez
e descer com calma por todo o teu corpo,
nós duas perdidas de prazer,
nas regiões encontradas;
o quanto eu te amo,
minha namorada,
minha deusa vadia,
não podem explicar os especialistas;
o nosso amor desafia:
a inteligência dos cientistas,
a experiência dos sábios,
a cura do messias,
todas essas filosofias
na porta deste cômodo são matérias extintas,
da tua beleza nunca me distraio,
eu me colo nos teus lábios
de onde só saio
no sopro das minhas cinzas
Malditos versos,
nunca acabam,
sempre mais uma linha a digitar,
sempre mais um motivo a fazer reclamar os meus dedos cansados,
mas que malcriação minha,
chamá-los desgraçados,
são uma benção,
que não acabem nunca,
que passem por cima de mim
e durem muito mais que eu,
quero ser velado coberto de poesias,
morrer pela literatura e não por amor,
como fez Romeu
A saudade
é emoção que invade,
inunda,
às vezes é doce,
sensação de candura,
outras, tem gosto de amargura;
às vezes é um sentimento de ternura,
outras, ataca com voracidade,
como se tivessem arrancado um pedaço nosso
numa sessão de tortura,
dor tão forte
que a gente se entrega ao insano,
amadurece o desejo leviano
de nunca ter vivido aquilo
e se esquece que pior que a saudade
é uma vida não vivida,
se eu pudesse optar
pelo modo do meu findar,
gostaria de morrer de saudades,
despido de todas minhas vaidades,
todas as trivialidades,
as quais a gente se apega
como se fossem o Santo Graal,
não larga, não entrega,
vivendo carregados de desimportâncias;
quero encontrar na morte o desapego total,
que me faltem preocupações,
que me faltem pendências,
que me falte o vazio existencial
e só me reste a certeza
de que vivi uma vida feliz
Eu não faço amor,
faço poesia;
a luxúria é vazia
para quem mergulhou na dor
e hoje tem vício de viver;
sou distante,
dessas noites o destino me priva,
não consigo entreter,
me conectar;
o momento ofegante
fica à deriva,
insiste em se dissipar,
não chega ao flerte,
não entra no quarto,
não deixa a roupa no tapete,
não sobe na cama;
para mim tudo é um parto,
toda gente me desama
sem antes me provar
Só perco o sono até mais tarde,
perdido no meu pensar;
achei que diante do fogo eu fosse covarde,
mas eu tenho é muita vontade de amar
Tantos dias chorando as tuas saudades,
tantas noites sonhando as tuas devassidades,
e numa manhã repentina,
com um insight de surdina,
eu te superei;
o que somos não sei,
"amigos" foi um termo que no passado precipitadamente afirmei;
teu jeito matreiro e confuso,
meu pensamento caótico e difuso;
como a nossa relação, somos muitos difíceis de entender;
tem uma dose razão o lado que me manda te esquecer,
mas a verdade,
com toda sinceridade,
é que agora contigo não sei o que fazer
Não há nada para me perguntar,
eu conheço as regras do jogo
na cartilha coloquei fogo,
não quero jogar;
ponho todas as cartas na mesa
para não ter incerteza,
sem blefes,
sem flertes,
mostro a minha cara
e ninguém me encara;
um ais de paus do naipe de ouros é diferente,
eu sou o caos na normalidade aparente,
num jogo de amor não se pode perder
não existe desacerto algum
não é um embate,
é partida de empate,
placar de um a um;
mas elas assustadas me deixam vencer,
largam o jogo,
deixam a mesa,
negam fogo,
apegam-se ao pudor
na noite de amor,
escolhem a tristeza
Você é um vício
o arrepio de estar à beira do precipício
você é louca
mas sou eu que vou para o hospício
se ficar mais um segundo sem a sua boca
Eu conheço aqueles olhos
e eles me conhecem,
pelas lentes de outras dimensões,
de outras vidas não me esquecem;
eu confio naquele olhar como se entre nós houvesse um laço
que nunca teve lugar, nunca teve espaço,
desses olhos não preciso fugir, não preciso disfarçar
Eu conheço aquele sorriso,
ele me dá um aviso
do qual não sei lembrar,
é um sorriso bonito
tão lindo que seria impossível na memória não se eternizar,
é por alguns segundos,
mas o sinto como se fosse infinito,
dois lábios que se abrem para as maravilhas do mundo revelar;
ela tem um charme que é impossível não captar
inadmissível não se deixar levar,
de onde…
de onde eu te conheço
e como te deixei escapar?!
Eu amo demais,
eu amo assaz,
amo em dobro,
amo e nunca tenho logro,
porque quando as pessoas percebem que me amam,
já é demasiado tarde;
o amor que me dão é covarde,
não corre atrás,
e mesmo que corresse,
o fim é de fato esse,
não há o que se conserte,
não há desejo que se desperte,
quando as palavras malditas já melaram tudo,
não há melô,
não há prova de amor,
não há pau duro
A primeira mulher que amei
o meu amor desfez
quando me definiu, “um personagem”,
ofensa de nova roupagem;
pobre alma disparatada,
uma vida repleta de elogios
e romances que não dão em nada,
não sabia o quão profundamente estava errada,
eu não sou um personagem,
sou a história,
homem imponderável,
não existo,
aconteço!
E no dia em que for apenas uma memória,
sei que dirão,
“dele não me esqueço”
Quando estou conversando com você,
sinto que as palavras ficam na ponta do pé,
mas nunca põem a cabeça para fora da janela,
não saem pelos seus lábios de lua;
você foge de mim, mesmo caminhando ao meu lado na rua,
você me tem como sábio, mas eu só lanço para o ar ideias nuas
Já anunciei o cessar-fogo,
mas você vê segundas intenções nos meus atos,
para você tudo é um jogo,
e nas entrelinhas dos fatos
o seu charme vira coquetismo,
meu espírito, forma de ocultismo,
poli amor ou um polimorfismo de relações,
muito presumidos e apegados a suposições;
é um bem-me-quer que não quero
eterno placar de zero a zero
Você sente minha falta,
sofre calado
e se orgulha de eu não ouvir isso da sua boca,
a si mesmo renega os próprios sentimentos,
fazendo essa cara blasé de homem racional,
você acredita ter o controle de tudo,
e mesmo nas frias madrugadas
quando não é mais possível aturar,
o seu coração salta a cadeia de montanhas geladas
que você construiu em torno de si,
na primeira calmaria você se esquece do próprio sofrimento,
não abandona essa fé de ser um homem sem fé no amor,
sem fé em si próprio,
um peito de pedra;
perdido a esmo, você aceita fácil demais o seu fim,
não tenta mudar,
entender,
melhorar,
amadurecer,
evoluir,
isso me levar a crer
que você não consegue encarar,
só sabe fugir,
com seu ar de propriedade
você esconde a minha saudade,
tenta escapar da verdade;
você ainda me quer,
sofre calado
não se atreve a dar um passo,
no fundo, eu tenho muito ainda tem muito espaço
nesse peito gelado para me sentir