Chegamos ao final de mais uma temporada do Quase Lá e, como já é tradição, homenageamos uma nunca-vencedora do Oscar. Desta vez, a escolhida é Annette Benning. Logo em um de seus primeiros papéis no cinema, em Os Imorais, Benning já foi lembrada pela Academia - prenunciando uma carreira dourada. Mas ela teve que esperar quase uma década para voltar a ser indicada, por aquele que talvez seja seu papel mais marcante em Beleza Americana. Nas últimas duas décadas, Annnette continuou a marcar presença e entregar atuações memoráveis - foi lembrada por Adorável Júlia e, mais recentemente, por Minhas Mães e Meu Pai.
Neste especial, nós conversamos sobre os filmes que renderam indicações à atriz e, como sempre, discutimos o que faz com que Annnette Benning ainda seja uma quase lá.
Às vezes o Oscar "cede" ao chamado cinema-arte e consagra atores, diretores ou filmes premiados em Berlim, Cannes, Veneza e outros festivais de cinema. Com Cópia Fiel, de 2010, havia alguma esperança de que a Palma de Ouro desse a Juliette Binoche um lugar entre as indicadas ao Oscar daquela temporada. Além disso, a recepção calorosa da crítica alimentou a expectativa de que Abbas Kiarostami e o filme fossem lembrados. No entanto, mais uma vez, a temporada do Oscar esqueceu do que aconteceu na Riviera francesa.
BURLESQUE foi produzido como um filme que aproveitasse a retomada dos musicais trazida por Moulin Rouge e Chicago e fosse um veículo para alçar Christina Aguilera ao estrelato nas telas. Para ajudar, trazia de volta ao cinema a diva e ganhadora do Oscar, Cher.
Perante à crítica, o filme foi considerado uma coleção de clichês, mas as protagonistas e o visual camp e algumas canções certeiras ajudaram o filme a ter uma boa bilheteria e repercussão. Nas premiações, mesmo que ninguém apostasse na força dramática do filme, You Haven't Seen The Last of Me, composta por Diane Warren e interpretada por Cher, parecia uma barbada. Porém, mesmo tendo sido indicado na categoria em várias outras premiações, Burlesque acabou esquecido pelo Oscar. Como isso acontece?
"A primeira regra do Clube da Luta..." Não é preciso ter assistido a O clube da luta para reconhecer o filme, repetir essa frase clássica e saber (ou achar que sabe) quem é Tyler Durden. Dirigido por David Fincher e estrelado por Brad Pitt, Edward Norton e Helena Boham-Carter, o filme aparece constantemente em listas de melhores filmes do século passado e é frequentemente citado como um exemplo de adaptação.
Apesar de não ter sido um grande sucesso de bilheteria, o filme se tornou um cult rapidamente e, com um elenco de rostos reconhecidos e em ascensão, poderia ter figurado facilmente entre as indicações ao Oscar em 2000. Porém, o filme foi lembrado em apenas uma categoria técnica.
Se O clube da luta não tem Oscar, azar do Oscar.
O pintassilgo (dir. John Crowley, 2019) é baseado em um dos romances contemporâneos mais celebrados da literatura dos Estados Unidos. A obra de Donna Tartt impressionou pela habilidade em contar uma longa história de luto de maneira delicada e sem melodramas, usando a arte como grande metáfora para a trajetória do protagonista. Assim, a adaptação estrelada por Nicole Kidman, Ansel Elgort, Luke Wilson e Jeffrey Wright trazia expectativas justificadas pelo material exemplar. No entanto, tão logo o filme estreou, as críticas foram apáticas e ele se tornou um dos grandes fracassos do ano.
Como ingredientes tão bons resultaram em uma obra tão esquecível?
Martin Scorsese ficou anos na fila do Oscar. Apesar de clássicos como Taxi Driver, Touro Indomável e Os bons companheiros, Scorsese era regularmente preterido nas premiações - e algumas vezes totalmente esquecido. Com Vivendo no Limite, o diretor tentou algo mais experimental, mostrando a dura realidade de um paramédico nas ruas de Nova York de maneira às vezes crua e outras vezes onírica. O elenco foi capitaneado pelo recém-oscarizado Nicolas Cage e trazia outros nomes de peso como John Goodman e Patricia Arquette. O resultado foi um dos filmes mais complexos e menos populares do mestre Scorsese.
Nove Rainhas foi um dos filmes mais populares da Argentina no final do século passado e ajudou a transformar Ricardo Darín num dos símbolos do cinema latino-americano. A trama urbana sobre dois trambiqueiros tentando confiar um no outro para conseguirem aplicar um grande golpe em uma Buenos Aires marcada pelas crises econômicas e pela desconfiança no futuro.
O filme foi um grande sucesso em terras latinas e conseguiu boa distribuição lá fora, o que fez com que o público na época imaginasse que pudesse atrair a atenção das premiações. Mas não foi isso o que aconteceu.
Neste episódio nós aproveitamos para conversar um pouco sobre o cinema sul-americano e seus caminhos para o Oscar e para suspirar por Ricardo Darín.
Nós foi o sucessor de Corra!, a impressionante estreia de Jordan Peele na direção que acabou lhe valendo um Oscar de Roteiro Original. Em Nós, Peele se mantinha na seara do terror social, mas com um trama mais ambiciosa - e propositalmente ambígua - capitaneada pela também oscarizada Lupita Nyong'o. Quando a produção foi anunciada, o filme era dado como certo na corrida para o Oscar 2019. No entanto, quando a temporada chegou, o filme foi praticamente esquecido: além de alguns prêmios da crítica, especialmente para a atuação de Nyong'o, o filme não apareceu nas premiações televisionadas e acabou frustrando quem achava que ele seria um forte concorrente.
Um caso de queridinho da crítica que deixou o público dividido, Nós é um caso clássico de quase-lá.
Não teve pandemia que impedisse a Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood de realizar a sua premiação anual. Sem cinemas abertos e com uma temporada muito mais longa, o ano foi das produções independentes e do streaming, o que permitiu (um pouco) mais variedade nos rostos, origens e temas entre os indicados. Mesmo assim, algumas coisas nunca mudam: a cerimônia é longa, a produção dá mancada e a Glenn Close fica de mãos abanando! Afinal, para alguém ganhar outros precisam perder.
Neste especial, a gente conversa sobre quem perdeu bonito, quem perdeu feio, quem não merecia ter perdido e quem poderia ter perdido mais que estava pouco!
Vamos celebrar a razão de ser deste podcast, os PERDEDORES DO OSCAR!
(Participação especial: Anderson Gomes)
Poucas reuniões foram tão esperadas quanto a de Kate Winslet e Leonardo Di Caprio. Alçados ao estrelato como o casal protagonista de Titanic, Kate e Leo conseguiram se manter inteiros em meio à máquina de fazer destruir celebridades em Hollywood e construíram carreiras sólidas: enquanto Di Caprio buscou projetos de grande visibilidade, alguns em parceria com diretores renomados como Martin Scorsese e Steven Spielberg, Winslet equilibrou projetos maiores com filmes de orçamento mediano que garantiam sua liberdade criativa. A pergunta que se fazia era quando a Academia iria reconhecer que o jovem par romântico do final dos anos 1990 merecia umas estatuetas douradas
Foi apenas um sonho parecia o projeto ideal para que eles alcançassem esse reconhecimento: baseado em um grande romance da literatura contemporânea dos Estados Unidos, o filme foi dirigido pelo competente e já oscarizado Sam Mendes. As primeiras impressões e a crítica especializada cravavam que o filme seria um dos candidatos mais fortes aos prêmios principais. Mas quando as indicações saíram, justamente os nomes mais fortes - Mendes, Winslet e Di Caprio - foram deixados de lado.
Neste episódio, conversamos sobre um filme marcante e com uma história tão frustrante quanto o cancelamento de uma viagem para Paris.
Clássico instantâneo, filme que marcou uma geração, filme com personagens icônicas, um dos filmes para ver antes de morrer, um filme que suscita debate. Thelma e Louise pode ser descrito assim e de várias outras formas.
Dirigido por Ridley Scott, Thelma e Louise apresentava vários elementos pioneiros em uma roupagem de "filme de perseguição" clássico. Aliás, ter duas mulheres como protagonistas de um filme como esse já era uma novidade. Além disso, trazia ao longo da trama pequenas discussões sobre os limites impostos pela sociedade às mulheres e a todas as pessoas que "não se conformam" com os padrões, o que fez com que o filme se tornasse imediatamente um símbolo para o feminismo e a cultura queer.
Embora reconhecido em diversas indicações e premiado com o Oscar de Melhor Roteiro Original para Callie Khouri - a primeira mulher a ganhar esse prêmio sozinha -, Thelma e Louise foi esquecido na categoria principal. Esse esquecimento e o prêmio solitário de Khouri acabam deixando um gosto de frustração na carreira de um filme tão emblemático.
Mas o que é um Oscar para quem conquistou o Grand Canyon?
No início dos anos 2000, a perspectiva de um filme unindo os consagrados nomes de Steven Spielberg e Tom Hanks era mais do que suficiente para criar expectativa de um grande filme que certamente seria considerado nas premiações do ano. Com um argumento que apelava a diversos públicos, O terminal parecia destinado a fazer sucesso com o selo dos "filmes família" de Steven Spielberg.
Apesar de ter conquistado um público razoável, o filme ficou muito aquém do esperado. A boa vontade da crítica e do público com os nomes envolvidos (o elenco ainda contava com Catherine Zeta-Jones, já ganhadora do Oscar, além de Stanley Tucci, Diego Luna e Zoe Saldana), o filme nem chegou a figurar entre as possibilidades de Oscar. Uma decepção para uma obra que sucedida o divertido e grandioso Prenda-me se for capaz.
Neste episódios nós perguntamos: Spielberg e Tom, tá tudo bem com vocês?
Até Central do Brasil poucos filmes haviam conseguido fazer o público brasileiro se envolver com um filme nacional. Como jamais havia ocorrido, os brasileiros encheram as salas de cinema para se encantarem com a história de Dora, uma ex-professora que ganha a vida escrevendo cartas em nome de pessoas analfabetas na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e Josué, um menino que fica órfão e precisa contar com a ajuda de Dora para voltar à sua cidade natal no Nordeste e reencontrar o pai.
Premiado desde a pré-produção, Central do Brasil parecia ser a grande chance do cinema brasileiro ser reconhecido pela tal Academia hollywoodiana. Depois da dupla premiação no Festival de Berlim, para o filme e para Fernanda Montenegro, e do BAFTA e Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, a desejada estatueta do homem dourado era uma certeza. Até que não foi.
Neste episódio, relembramos Central do Brasil, um dos indicados brasileiros ao Oscar.
Projeto pessoal do protagonista Hugh Jackman, O rei do show queria mostrar que musicais totalmente originais poderiam encontrar o seu público e ser sucesso. Nessa empreitada, a escolha da personagem central ajudava a criar expectativas. Afina, P. T. Barnum, conhecido como o criado do show business, era uma figura tão fascinante quanto controversa e Jackman parecia reunir as qualidades essenciais para retratá-lo. Para ajudar a colocar o musicar de pé, Jackman contava com a dupla de compositores responsável pelas letras das canções do recém-Oscarizado La La Land, Benji Pasek e Justin Paul. Para compor o elenco, a produção selecionou um bom elenco de apoio de novos talentos, os já conhecidos Michelle Williams e Zac Efron e a estrela em ascensão Zendaya. Expectativas foram criadas, mas logo surgiram rumores de que o filme não era lá essas coisas...
O resultado foi um filme que foi recebido com críticas mornas, mas que surpreendentemente conseguiu boas bilheterias, ajudado pela radiofônica "This is me". A canção acabou sendo a responsável pela única indicação do filme nos Oscars, esquecido em outras categorias.
Se O rei do show não foi a bomba que algumas pessoas esperavam, também não conseguiu ficar à altura das expectativas iniciais. Vamos cantarolar e tentar entender o que aconteceu no meio desse espetáculo.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças é um filme que marcou uma geração. A história dos ex-namorados Joel e Clementine que recorrem aos serviços de uma empresa especializada em apagar memórias doloridas das pessoas virou um cult instantâneo e frequentemente é lembrada inclusive por pessoas que não assistiram o filme (grande ironia, não?). Quando estreou, o filme solidificou o nome de Charlie Kaufman como um dos principais autores do cinema norte-americano, tornou Michael Gondry e sua criatividade conhecidos do grande público e trouxe atuações marcantes de Kate Winslet e Jim Carrey.
Sucesso de público e crítica, o "indie do ano" acabou perdendo força nas indicações. Apesar de premiado com o Oscar de roteiro, ele ficou aquém das expectativas de quem esperava que ele fosse amplamente reconhecido em várias categorias.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças poderia ter ido mais longe?
Ao longo dos anos, as atuações de Glenn Close foram reconhecidas com nada mais do que sete indicações ao Oscar, nas categorias Atriz e Atriz Coadjuvante. Mas esse reconhecimento também se tornou um recorde embaraçoso: é a atriz que mais vezes perdeu o Oscar.
Neste especial, analisamos suas quatro indicações a Melhor Atriz e como aconteceram as suas derrotas, torcendo para que ela saia da fila logo!
Filmes comentados
Alfred Hitchcock é um nome que dispensa apresentações, mas mesmo assim vale recapitular: conhecido como o Mestre do Suspense, diretor de filmes clássicos e inovadores como Psicose, Intriga Internacional, Um corpo que cai e Janela Indiscreta, e um dos cineastas mais reverenciado pelas gerações futuras. Além de servir como inspiração para diretores tão distintos quanto François Truffaut, Brian De Palma e Steven Spielberg, Hitchcock também foi um autor longevo, que começou na década de 1930 e continuou produzindo até os anos 1970, sempre com ótima recepção do público.
O homem que sabia demais é um exemplo dessa capacidade que Hitch tinha de produzir filmes que se comunicavam muito bem com o público ao mesmo tempo que eram obras primas do cinema marcada pela direção precisa de todos os detalhes, da música à atuação. O filme foi um sucesso de bilheteria mas, como todas as outras obras de Hitchcock, não rendeu ao diretor a estatueta dourada.
Lançado em 2003, Elefante foi imediatamente recebido com premiações, de melhor filme e diretor, no Festival de Cannes. Ao longo do ano, se tornou um dos filmes obrigatórios da temporada, uma obra que precisava ser vista e comentada. Mas todo o apelo artístico e os sucessos comerciais anteriores do diretor Gus Van Sant não foram o suficiente para que o filme fosse lembrado pelo Oscar, em nenhuma categoria.
Mas um filme como Elefante precisa de Oscar?
Considerado um clássico do cinema norte-americano e uma das obras primas de Robert Altman, Nashville recebeu ótimas críticas e influenciou gerações de realizadores desde o seu lançamento, em 1975.
A narrativa solta e a direção inventiva de Altman já atraíam a atenção dos cinéfilos há algum tempo, mas este retrato particular da cena da música country em um país traumatizados pelo assassinato de Kennedy e a Guerra do Vietnã parecia ser a obra ideal para que ele recebesse os louros da Academia de Artes Cinematográficas. Infelizmente, nem Nashville nem qualquer outro filme foi suficiente para dar a Altman um Oscar de direção.