Ao chegarmos ao penúltimo livro do Novo Testamento, deparamo-nos com esta carta pouco conhecida e cujo conteúdo nos soa um pouco estranho. A razão disso prende-se sobretudo com a situação específica que o autor sente necessidade de confrontar e com as citações que ele faz de textos hebraicos extracanónicos. Todavia, no essencial, Judas diagnostica comportamentos pouco saudáveis que estavam a minar a vivência espiritual daquela igreja, advertindo os crentes para esse perigo e exortando-os a serem vigilantes na sua fé e a perseverarem naquilo que era o verdadeiro Evangelho.
Na mais pessoal das epístolas joaninas, o seu autor exalta as qualidades de fidelidade e de hospitalidade de Gaio, contrastando o seu exemplo com o de outro irmão, Diótrefes, que se mostrava autoritário e fechado à comunhão com irmãos viajantes.
Ora, no 1º século a.D. a hospitalidade dos cristãos foi essencial à propagação da fé. E vinte séculos depois? A hospitalidade cristã é ainda um carisma, um dom do Espírito para acolhermos o outro com generosidade e com abertura, seja abrindo na prática as portas de nossa casa, seja oferecendo ao outro um espaço de escuta e de compaixão. É sempre uma manifestação visível do amor de Deus que acolhe todos.
Há duas verdades que o autor das epístolas joaninas não se cansa de frisar. A primeira é que Deus é amor e se dizemos que somos seus filhos, o amor deve ser também a marca da nossa vida. A segunda é que Deus encarnou em Jesus, fez-se homem, tomou a nossa condição humana e suportou o castigo da nossa rebeldia, e essa é a maior prova do seu amor por nós. Portanto, João é peremptório: qualquer um que negue a humanidade de Jesus e qualquer que não siga o seu exemplo de amor, não tem parte em Deus.
Como bem sabemos, o amor é um verbo. De nada vale dizer que amamos, se isso não se traduzir em gestos e atitudes que atestem que amamos verdadeiramente. E, de acordo com o autor da 1ªCarta de João, de nada vale dizer que conhecemos a Deus, se não amamos. A própria natureza de Deus é Amor e, portanto, se somos seus filhos, o seu amor está em nós e flui em direção aos outros. "Aquele que vive no amor está em Deus e Deus nele." (1ª João 4:16)
O grande apóstolo Pedro sabe que, ao escrever esta carta de Roma, tem provavelmente a sua última oportunidade de se dirigir aos crentes das várias igrejas espalhadas pela Ásia Menor. Portanto, ele adverte-os contra ensinos falsos e enganadores e encoraja-os a nunca deixarem de crescer no conhecimento de Cristo e a desenvolver aqueles traços que caracterizam o próprio Deus. Só dessa forma é que os crentes, ontem e hoje, podem refletir a glória de Deus ao mundo.
O que se diz a alguém quando se acredita que o fim dos tempos está próximo? O grande apóstolo Pedro, escrevendo de Roma, onde acabará por ser morto, desafia os crentes a orar mais, a serem hospitaleiros de forma generosa, a servir melhor e a amar sempre, para que Deus seja glorificado. E quando o cristão age desta forma, "o mundo pula e avança", como diz o poeta. Foi assim que o Cristianismo se expandiu a meio às maiores dificuldades e perseguições e é ainda assim que Cristo é revelado ao mundo hoje.
O Evangelho para ser Boa Nova tem de reflectir-se na prática, nos gestos de cada dia. Uma fé que fica apenas pelas palavras e não vai ao encontro das necessidades do próximo é uma fé estéril ou, nas palavras de Tiago, uma fé morta.
No Sermão do Monte, Jesus resumiu bem o que significa viver o Evangelho e Ele próprio encarnava essa confiança no Pai, que a cada momento se traduzia em amor para com os que o rodeavam.
A fé viva é aquela que se torna corpo, presença e gesto a favor do pobre, do estrangeiro, do marginalizado, do injustiçado. É disso que trata a Carta de Tiago!
Para o autor de hebreus, Jesus é a revelação perfeita de Deus, superior a todas as outras revelações anteriores. É n'Ele que os destinatários desta carta devem depositar a sua confiança, apesar dos desafios e tribulações. E Ele é bastante, o seu sacrifício suficiente, o seu amor pleno!
Sem qualquer exposição doutrinária ou sequer menção à obra salvífica de Cristo, esta pequena carta pessoal de Paulo a Filémon acabou por entrar no cânon bíblico. Porquê? Uma explicação é que ela testemunha da transformação radical que ocorre nos relacionamentos entre pessoas que seguem a Cristo - ela transforma escravos fugidios e rebeldes em cooperadores no trabalho missionário e derruba barreiras entre estratos sociais, tornando cada seguidor de Cristo num irmão. Outra possível explicação é que Onésimo, escravo que um dia fugiu do seu senhor e se converteu aos pés de Paulo, pode bem ter acabado por se tornar no mui estimado bispo da igreja de Éfeso décadas mais tarde. Não sabemos, mas seja como for esta é uma carta cheia de graça, restauração e esperança!
Nas cartas pastorais do apóstolo Paulo em geral, e nesta a Tito, em particular, lemos várias instruções práticas acerca de como os crentes se devem comportar no seu dia-a-dia. Há uma grande preocupação pelo testemunho cristão junto daqueles que ainda não crêem e há uma forte convicção de que Cristo voltará e, portanto, o crente deve estar preparado para a chegada do Rei dos reis. Efectivamente, quando esperamos a chegada de alguém importante, limpamos, decoramos e colocamos tudo em ordem para receber essa visita especial. Quanto mais prontos devemos estar para a vinda de Cristo!
Também esta é uma carta de encorajamento! Provavelmente as últimas palavras escritas do apóstolo Paulo antes do seu martírio em Roma, elas têm o propósito claro de animar o jovem Timóteo na sua missão de pastorear uma igreja cheia de desafios. Elas recordam-no da herança de fé recebida da sua avó e de sua mãe, da confiança que Paulo também depositara nele e, acima de tudo, do Espírito de Deus que o acompanhava sempre, um espírito de coragem, amor e moderação.
Retomamos os Ritmos Sagrados com uma meditação sobre um trecho de uma das cartas pastorais do apóstolo Paulo. Ele escreve a Timóteo, seu colaborador chegado e líder da igreja de Éfeso, encorajando-o e estabelecendo orientações práticas para fazer face aos desafios de uma comunidade cristã emergente. E se há uma prática que Paulo enfatiza sempre nas suas cartas é a da oração. É através da oração que nos colocamos no centro da vontade de Deus e é a partir dela que podemos participar na missão de anunciar o Evangelho a todos!
Na jovem comunidade cristã de Tessalónica havia a ideia que a 2ª Vinda de Cristo estaria para breve e que, assim sendo, não haveria necessidade de continuar a trabalhar ou a cuidar dos deveres quotidianos. Paulo escreve esta segunda carta aos Tessalonicenses para contrariar essa concepção errada, motivando-os a viverem as suas vidas com diligência e responsabilidade. Afinal, a fé nunca deve ser justificação para nos retirarmos da vida, antes deve ser exercitada e aprofundada na nossa vivência diária ao trabalharmos, ao caminharmos uns com os outros, ao construirmos o Reino de Deus na Terra como no Céu!
Num dos textos mais antigos do Novo Testamento, o apóstolo Paulo aborda uma das questões mais relevantes para os primeiros cristãos - a segunda vinda de Cristo. Para a comunidade em Tessalónica, o retorno de Jesus à terra estaria para breve e, portanto, questionavam-se o que aconteceria com aqueles que já tinham morrido. Paulo sublinha que nem a morte pode separar o crente de Cristo e que, tal como o Senhor, também eles ressuscitarão e farão parte do Reino que será estabelecido na terra como no Céu.
Nesta epístola paulina, encontramos a afirmação reiterada de que Cristo é tudo e está em tudo, n'Ele estamos completos e por ele todas as coisas foram criadas e reconciliadas. Ele é a imagem do Deus invisível, primogénito de toda a Criação, fonte, sustentador e propósito de tudo e cabeça da Igreja. Ele, "que é a nossa vida" (Col. 3:4), é a razão porque nos vestimos das virtudes da compaixão, bondade, humildade e paciência, porque perdoamos os outros e procuramos a paz e a reconciliação.
Filipenses é a carta da alegria cristã, na qual esta palavra é mencionada cerca de 15 vezes. Teresa d'Ávila alertava: "Deus nos livre de santos tristes!" Efectivamente, a alegria é um fruto do Espírito Santo e deve ser um reflexo da presença de Deus na nossa vida - presença esta que não é macambúzia, mas radiante, cheia de consolação e esperança.
Cristo é a nossa Paz. E esta paz não é simplesmente a ausência de guerra ou conflito, mas é shalom, é propósito, é gozo, é completude, é unidade, é missão. Em Cristo e perante a Sua cruz não pode haver mais lugar para inimizades e ódios. N'Ele os muros ruem e constroem-se, em vez, caminhos de amor, de perdão e de união. Ser Cristão é ser um construtor da paz!
Hoje mergulhamos em Gálatas 5 e na profunda verdade da liberdade em Cristo. O contexto desta carta de Paulo é bastante específico, mas a realidade e a tentação não são muito diferentes das nossas. Ainda agora preferimos optar pela segurança das regras e dos rituais religiosos em detrimento da verdadeira liberdade do Evangelho!
A vida cristã é repleta de paradoxos e um deles é resumido pelo apóstolo Paulo na passagem de hoje: "Quando estou fraco, então é que sou forte." A nossa fragilidade é exactamente o lugar onde o poder de Deus mais se manifesta. É nestes vasos de barro que o Senhor derrama o Seu tesouro e faz transbordar a Sua graça.
Hoje mergulhamos no hino ao amor de 1 Coríntios 13 — uma das passagens mais sublimes da Escritura. Nele o apóstolo Paulo apresenta o amor (ágape) como o caminho mais excelente, acima de qualquer dom ou virtude. É um convite a reflectirmos também sobre os limites do amor centrado no ego e a redescobrir o amor cristão como dom, maturidade e compromisso. A Palavra nos convida não apenas a sentir, mas a escolher amar.